Delton Mendes lino, Diretor Internacional do Instituto Curupira (MG, SP e EUA), Coordenador Científico do Sophia: Núcleo de Pesquisa em Ecologia Holística e Pesquisador em ciências ambientais e eco culturais escreve uma carta aos educadores. Confira.
Pelas ruas, as pessoas am com frequência. É possível, aos olhos de um observador atento, saber a rotina de todos aqueles que caminham cotidianamente; que dirigem seus carros, caminham com seus cães; é possível saber muito, ou até quase tudo, da vida de quase todos, afinal, a rotina encurta os espaços do improvável e orienta as definições, as certezas e o que é costumeiro.
No entanto, no universo da criança, é diferente. Ao invés da certeza do comum, nelas predominam as incertezas do incomum. Aos seus olhos, na maioria das vezes tão brilhantes e desprovidos da maleficência que nos é peculiar, predomina o reino da dúvida e do questionamento. Nesse reino, tão caro dentro do espírito infantil, há duas palavras de ordem: o espanto e o encanto.
Pergunte-se: qual a grande diferença entre uma criança de 7 anos de idade e um adulto de 40? Como ambos enxergariam mesmos fenômenos, como a chuva, o arco-iris, um carro em movimento, a cor vermelha do sangue ou o despontar do Sol no horizonte?
As crianças são, em si, verdadeiros oráculos da dúvida. São cartas abertas ao espanto e ao encanto.
Espantar é o primeiro processo para a educação. Não existe educação sem espanto, pois é ele que conduz à dúvida: por qual razão a chuva cai em forma de gotas, e não em forma de um rio, todo de uma vez, forte e insensato? Por que o arco-iris é redondo? Será que ele continua debaixo da terra, mas não vemos? O que faz o carro andar? Dentre tantas cores, por que o sangue escolheu ser vermelho, e não verde ou azul?
O espanto é um processo geracional. É um incentivo ao cérebro. É uma fonte inesgotável para a felicidade genuína, ou seja, aquela momentânea e não frequente, que desnorteia o rumo do dia, que tira o lugar comum e retira do cotidiano o ar presunçoso da rotina.
Após o espanto, vem o encantamento. Assustar-se com as coisas do mundo e de si mesmo, é um aprofundar no oceano infinito de possibilidades de percepções, e um convite inesgotável ao conhecimento. No entanto, para que o espanto abandone sua carcaça por muitos considerada infame, é preciso juntar a ele o encantamento. Após o espanto da dúvida, da ausência da certeza e certeza da inexatidão das coisas, o encantamento toma as rédeas. Sim, a chuva não cai toda deuma vez só, em forma de rio. Elaescolhe cair em forma de gotas, em milhões de pequenas partes, leve, serena: um encanto. Mas, por quê?
O universo em si mesmo é um todo encantável. A dúvida é maestra da sinfonia inesgotável de harmonizações entre as diversas for mas de aprender. Por qual motivo, então, a educação, esteja ela nas instituições regulares de ensino, esteja ela dentro das casas, nas famílias, tem abandonado o reino do espanto, da dúvida e do encantamento? Por que deixar as dúvidas serem mais frequentes que as certezas tornou-se um equívoco, um problema, um atraso moral?
Delton Mendes lino é Diretor Internacional do Instituto Curupira (MG, SP e EUA), Coordenador Científico do Sophia: Núcleo de Pesquisa em Ecologia Holística, Pesquisador em ciências ambientais e eco culturais
Contato: (32) 9 8451 9914 (whatsapp)/delton.mendes (Instagram)
Com JORNAL EXPRESSO DE BARBACENA