1y342w

 

Nunca fui criança pequena aqui em Barbacena 4m5pa



Sérgio Cardoso Ayres, que nunca foi criança aqui em Barbacena, fala sobre o PL para transformar o bordão do personagem "louco" Joselino Barbacena em frase cultural de Barbacena 1k1t1b

Sérgio Cardoso Ayres

MEMBRO DA ACADEMIA BARBACENENSE DE LETRAS

 

Nunca. Mas hoje, sou adulto, nem grande nem pequeno, quase um idoso, mas aqui em Barbacena. Não que isso represente algo de mais ou de menos numa avaliação cultural ou de pertencimento. Minha infância, aquela de bem pequeno, foi ada em Recife. E já nem tanto reduzida, quase adolescente, em São Paulo. Cheguei por aqui de forma definitiva, pelo menos até agora, já beirando os trinta anos – que hoje é a idade em que termina a adolescência! Para ser criança no alto da Serra da Mantiqueira, eu teria que estar na cidade nos anos 60 até o início dos 70 do século ado. Só que, graças a uma imaginação fértil, posso recriar como seríamos, eu e Barbacena, naquela época, isso muito antes do Joselino Barbacena inventar esse bordão na Globo, em uma escolinha debochada que hoje, sem dúvida, sofreria críticas da esquerda e preconceito da direita. E ainda teria gente sem noção querendo que ela virasse cívico-militar.

Aliás, e é bom ressaltar, o referido aluno barbacenense se escondia lá no fundo da classe, fato que para um bom entendedor já justificava seu desinteresse pelo aprendizado. Ele aria despercebido até chegar a hora da prova, quando seria um destaque nas notas baixas pelo seu desempenho. E, quando questionado pelo professor sobre algum assunto, ele sempre dizia: “Ai, meu jesus cristinho, já me descobriu aqui outra vez. Será impossível”. Na hora de responder, sempre errado, afirmava: “Quando eu era criança pequena em Barbacena”. Com os dentes em situação precária, cariados e ausentes, como muitos brasileiros, e ainda para chamar a atenção como se isso fosse engraçado, ele com certeza seria alvo de bullying naqueles recreios de uma época que já se foi. Sua imagem, até mesmo com nuances de grotesca, lembrando o abandono institucional daquelas vítimas do Hospital Colônia, me dá tristeza ao retratar um barbacenense que, quando era criança aqui em Barbacena, não conseguiu estudar direito, nem tratar os dentes como deveria e ainda sofreu por parecer, desculpem, portador de transtornos, ou como dizem errado até hoje, um louco. Muito triste! Isso é ruim para a educação municipal, estadual e ainda para a nossa área da saúde bucal e mental, nós que somos um símbolo da luta antimanicomial.

E o que me espanta é alguém querer transformar o bordão do Joselino, uma criação do ator Antônio Carlos Pires, pai da atriz Glória Pires, que, como eu, nunca foi criança pequena aqui em Barbacena, em uma proposta que chamou de “frase cultural para nossa cidade”. Que cultura é essa? Acho que o vereador autor da proposta de transformar em ícone essa frase, esqueceu do significativo gesto com os dedos do Professor Raimundo, interpretado pelo saudoso Chico Anísio, que também não foi criança pequena por aqui, demonstrando o tamanho ridículo do salário dos professores diante da importância do ensino na formação de cidadãos. Isso, sem esquecer o que professores e professoras avam em plena sala de aula – e que hoje está até pior, com desrespeito, agressões e até mortes. “E o salário, ó! – dizia o professor, que recebe até hoje algo equivalente. Essa frase, sim, é bem mais representativa da educação em nosso país. Acho que o nobre edil, que já conseguiu uma certa projeção com o ato, deveria mesmo era propor algum tipo de valorização, até mesmo uma melhor remuneração, para os professores/as da rede municipal. Seria bem mais produtivo e interessante – lembrando que os da rede estadual estão em pior situação com a política educacional do Zema.

Como um adulto aqui em Barbacena, já que não temos como retornar aos tempos de criança pequena – o que é uma pena! – e a Escolinha do Professor Raimundo provavelmente seria 50% não presencial ou seria desativada por alguma nucleação, penso que precisamos de um pouco mais de seriedade ao tratar da nossa cultura. Que, aliás, como não diria Joselino: “Quando sou adulto aqui em Barbacena, meu jesus cristinho, ela vai de mal a pior! Será possível!”

LEIA TAMBÉM: 3o1l3b


 

Siga o BarbacenaMais no Instagram X Facebook


Imprimir  







Facilidades 5f1q16