Artigo do ambientalista Delton Mendes lino nos mostra a importância da ciência no nosso dia a dia, mesmo quando só a usamos por convenção. Leia Mais...
A humanidade tem algo em torno de 200 mil anos de existência, sendo que, desses, somente nos últimos 70 mil anos nos tornamos seres simbólicos, com capacidade enorme de interpretar dados da realidade, do mundo, do subjetivo e do coletivo. Não faz muito tempo, portanto, que estamos na Terra. Poucas pessoas sabem, mas somos um dos últimos braços evolutivos da vida no planeta, um dos mais recentes. Antes de nós, uma diversidade enorme de grupos de seres vivos já havia evoluído, desde os reinos das bactérias, protozoários, fungos, plantas, até e, inclusive, animais, como peixes, anfíbios, répteis e aves. Os mamíferos, dos quais fazemos parte, são os mais recentes animais.
Infelizmente, embora cientificamente comprovada, é crescente a pressão para que a Evolução das Espécies deixe de ser ensinada nas escolas. O criacionismo, interpretação na qual as pessoas creditam a vida na Terra a um criador, em geral desacredita que todos nós, seres vivos, tenhamos ancestralidade comum e partilhamos de processos evolutivos, e tem encontrado adeptos, sobretudo de religiosos sabidamente ligados a processos de corrupção, como muito tem-se visto nos noticiários.
Afinal, por que negar que temos origem e ancestralidade comuns com todos os outros seres vivos? Nosso corpo é um verdadeiro ecossistema, com bilhões de formas de vida habitando-o. Não sobrevivemos sem as bactérias, sem as plantas, sequer sem o Oxigênio que foi resignificado, outrora, por seres minúsculos. Por qual razão a maior parte de nossa população ainda é prepotente e arrogante, delegando à humanidade uma maior importância dentro do universo terrestre e cósmico?
Vivemos tempos difíceis, em que a ignorância e o obscurantismo crescem, desde o congresso nacional até o seio das comunidades. A educação e a ciência sofreram severos retrocessos, o que é muito preocupante, afinal, um país que não forma seus cidadãos para o senso crítico e percepção da realidade, dificilmente terá representantes públicos capazes de elaborar e desenvolver, de fato a democracia e a justiça, a equidade e civilidade. Todos utilizam a ciência no dia a dia, do Micro-ondas aos remédios; do chuveiro à TV e aos exercícios físicos na academia: triste perceber que somente nos valemos do resultamos da ciência quando nos convém, excluindo vários outros saberes, de forma a privilegiar uma visão de mundo egoistamente humanocentrista.
Texto: Delton Mendes lino – Diretor Internacional do Instituto Curupira, pesquisador em Ciências Ambientais e Culturais, Urbanismo e Sustentabilidade, Gestão e Planejamento de Áreas Naturais