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 A opinião de Sérgio Cardoso Ayres traçando paralelos entre a série e a realidade

 

  Cena da minissérie Adolescência, que se tornou a maior da história da Netflix 

Sérgio Cardoso Ayres

Membro da Academia Barbacenense de Letras

 

Que a vida é feita de fases, não restam muitas dúvidas. Existe tempo para tudo, inclusive para desperdiçar, mesmo sabendo que vai fazer falta depois. E faz mesmo! O que nos diferencia são as escolhas que fazemos quando podemos e sabemos decidir e aquelas que optamos quando ainda não medimos as consequências dos nossos atos. Dividir a vida em três fases não representa mais aquela carcomida realidade a que estávamos acostumados. Entre a infância, a juventude e a maturidade, conceitos considerados clássicos, existem tantos emaranhados e descaminhos que uma pessoa comum não consegue imaginar devido à complexidade de cada fase. Todos nós, salvo aqueles que perdem a vida cedo demais, vamos atravessar essas etapas e sentir, em maior ou menor intensidade, o que cada uma delas representa no campo emocional e psicológico. Apontar a infância como a melhor de todas sempre foi um chavão – como também afirmar que a vida começa aos quarenta. Nossas velhas certezas, na verdade, não existem mais. Hoje temos jovens velhos, velhos jovens e uma multidão de inseguros de qualquer idade mantidos equilibrados por comprimidos para isso e para aquilo.

A minissérie “Adolescência” colocou na pauta mundial duas questões que, até então, não caminhavam juntas de forma tão evidente. Elas são a adolescência e a misoginia. Definir adolescência, além da velha frase de que todo adolescente é chato - e fomos, somos e seremos - é uma tarefa difícil, ainda mais hoje, quando as redes sociais ditam comportamentos e exigem cada vez mais das novas gerações. Não se trata de acusar a internet, como fazíamos antigamente com a televisão, como instrumentos que desvirtuam nossos jovens e promovem a destruição da família. Bobagem! Nossos jovens não sabem quem são e a família já se perdeu como referência. A realidade mudou demais, principalmente para as nossas crianças e adolescentes. O mundo em que eles vivem é completamente diferente do nosso, adultos, que crescemos longe dos aplicativos e que, ainda, enchemos o peito de orgulho para dizer que “na minha época era melhor”. A adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, definido por alterações físicas, mentais, emocionais e sociais. E a minissérie mostra esse universo de uma forma cruel e assustadora – embora realista. As instituições de ensino parecem mais zonas de conflito e o mundo digital reúne mais verdades do que a ficção possa supor.

A cada dia somos surpreendidos por fatos que trazem consigo exemplos dos erros que a sociedade vem cometendo seguidamente há décadas. Existe um mundo secreto dos jovens formado por sentimentos como ódio, inveja, humilhação que nem sequer imaginávamos anos atrás. Eles são vítimas deles mesmos numa fúria de likes, emojis, postagens, assédios e relacionamentos tóxicos assustadores, que vão desde nudes tornados públicos até ameaças e agressões. Vidas se perdem nas redes sociais em busca de relevância. E nós, adultos, seguimos nossas vidas como se tudo isso fosse um problema só geracional. Estamos totalmente enganados! A minissérie, por outro lado, também destaca a questão da misoginia. Nossa sociedade continua formando gerações em que a violência contra a mulher e a supervalorização do homem provocam desastres sociais como o feminicídio e a desigualdade social e econômica entre os sexos. Nosso anti-herói, Jamie Miller, é o melhor exemplo desta forma de autoafirmação machista, que pode até ser silenciosa, inconsciente e inconsequente. Aliás, no último capítulo, ele diz ao pai que vai mudar o seu depoimento, mas em nenhum momento ele assume ser o assassino.

Além dos planos sequência na filmagem, que aumentam a sensação de realidade, “Adolescência” pede uma maior reflexão sobre nossos jovens, o sistema educacional, a misoginia e o uso das redes sociais. Vivemos numa época em que a infância deixou de ser inocente, a adolescência virou um campo minado, a maturidade ficou irresponsável e as mulheres continuam sendo vítimas do preconceito. Nós, adultos, precisamos rever certezas e discursos sobre a vida em sociedade. Talvez todos nós ainda sejamos adolescentes chatos. E misóginos e inconsequentes - o que é ainda pior!

 

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