De 17 a 30/07, edição acontece também em Tiradentes e Barbacena e presta homenagem à Semana de Arte Moderna.
O amor pela música e por ensinar dão a tônica, há 45 anos, ao Festival de Música de Prados, um dos mais longevos eventos dedicados à música de concerto no Brasil. Realizado desde 1977, a edição deste ano inclui ainda Tiradentes e Barbacena na programação gratuita que ocorre de 17 e 30 de julho. Durante 14 dias, moradores e turistas serão convidados ouvir música e praticá-la. Serão 17 apresentações que incluem concertos e recitais,18 oficinas e duas palestras com Flávia Camargo Toni, professora e pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP). Dos expoentes da música que participam do evento estão o violonista pradense Octávio Deluchi, vencedor do IBLA Grand Prize, um dos maiores talentos do violão brasileiro, a pianista Rosana Diniz, primeiro lugar no Concurso Frédéric Chopin, na Polônia, e o violoncelista Mauro Brucoli, da Orquestra Sinfônica de São Paulo.
Villa-Lobos
Esta edição celebra o centenário da Semana de Arte Moderna e boa parte da programação terá como destaque obras do compositor Heitor Villa-Lobos, principal nome da música brasileira presente no evento de 1922. De acordo com o violinista Fabio Brucoli, diretor artístico do festival, o foco em Villa-Lobos tem como objetivo celebrar a inestimável importância do compositor para a cultura brasileira. Reconhecido como um dos maiores compositores do mundo, Villa-Lobos é ainda desconhecido pela maioria dos brasileiros. O público terá o, dentre outras obras do compositor, como "Choro nº 7" (ou "Settimino"), "Bachiana Brasileira nº 9" e "Concerto para Violão e pequena orquestra".
Constam, ainda, da programação “A História do Soldado”, de Ígor Stravinsky, que dialoga de forma inequívoca com a nossa atualidade, o prelúdio “L’après-midi d’un faune”, de Claude Debussy, precursor do modernismo, e os “Concertos de Brandenburgo nº 3 e nº 6", de Johann Sebastian Bach, principal influenciador na música de Villa- Lobos. “Não podemos esquecer do aniversário de 200 anos do compositor romântico belga César Franck. Por isso apresentaremos no dia 30 de julho uma de suas grandes obras, o 'Quinteto para Piano e quarteto de Cordas', com Rosana Diniz ao piano”, destaca Brucoli.
Educação musical
Um dos maiores motivadores do evento é o convívio em torno do fazer musical. “Criamos uma atmosfera de inclusão para as atividades artísticas e demonstramos que a integração entre as pessoas se complementa através da produção artística”, destaca o coordenador do festival, Eduardo Toni Raele. O evento musical de Prados sempre teve uma vocação distinta dos demais festivais de inverno. Nele, a educação musical voltada à comunidade é tão importante quanto os concertos, recitais eapresentações. Esse é um legado deixado por seus idealizadores, os maestros e compositores Olivier Toni e Adhemar Campos Filho, já falecidos.
Toni nutriu um grande amor pela educação, fundou duas escolas que são referências na área: o Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da USP e a Escola Municipal de Música de São Paulo, além de quatro orquestras (Sinfônica Jovem de São Paulo, a Orquestra de Câmara de São Paulo e as orquestras Sinfônica e de Câmara da USP). De acordo com Raele, o festival foi criado para fomentar e apoiar a atividade musical na cidade, oferecer concertos gratuitos e pesquisar a música produzida na região no período colonial. "Ao longo dos anos, observamos um aumento da participação da comunidade, as apresentações têm casa cheia, assim como as atividades pedagógicas", destaca.
Semana de Arte Moderna em Minas Gerais
Celebrar a Semana de Arte moderna tem um significado especial para Minas. Segundo Raele, em 1924, Minas foi a região escolhida para ser apresentada ao poeta franco-suíço Blaise Cendrar na viagem que ficou conhecida como "descoberta do Brasil", organizada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Olívia Guedes Penteado, Tarsila do Amaral, entre outros. “Essa comitiva visitou o Campo das Vertentes durante a Semana Santa, e o que viram e ouviram serviu de substrato para o desenvolvimento do modernismo. Logo, como o modernismo é um movimento que acontece de forma menos localizada do que se apregoa normalmente, ou seja, não apenas no Rio de Janeiro ou de São Paulo, é importante celebrar essa data junto às diversas regiões do país", salienta.
Cidade musical
A trajetória do Festival de Prados remonta a meados de 1970, quando Olivier Toni visitava cidades mineiras em busca de partituras coloniais. Ao chegar em Prados, se surpreendeu com a atividade musical da cidade: com pouco mais de 5.000 habitantes, possuía banda, coro e orquestra, organizados por uma entidade musical criada em 1859, a Lira Ceciliana, dirigida pelo maestro Adhemar de Campos Filho. “Eles (Toni e o maestro Adhemar de Campos Filho) rapidamente fizeram amizade e combinaram que no ano seguinte, na segunda quinzena de julho, Toni levaria a Prados estudantes do curso de Música da USP, do qual era diretor, para tocarem juntos com os pradenses, aprenderem, ensinarem e conviverem com a comunidade. Essa tradição perdura até os dias hoje, graças à relação do público com o festival”, conta.
Oficinas
Para esta edição, serão 18 oficinas de instrumentos e musicalização, além de uma oficina de choro, improvisação e prática em conjunto. As inscrições serão abertas no dia 18, presencialmente na sede da Lira Cecilian, das 9h às 12h e das 13h às 17h, ou disponíveis de forma online, por link a ser divulgado nas redes sociais do festival (@festivaldemusicadeprados). Podem participar crianças, jovens e adultos. Eduardo Raele, também diretor executivo e de produção do festival, explica que as aulas de musicalização são um pouco diferentes das oficinas de instrumento, uma vez que nelas não são ensinados instrumentos musicais, e sim conceitos de musicalização e práticas corais alinhadas à atuação.
A interação com o público infantil, enfatiza ele, é especialmente importante, tendo como e principal as oficinas de música e as aulas de musicalização infanto-juvenil por meio de teatro musical. "No último dia do evento realizamos a apresentação teatral, com as crianças cantando e atuando juntamente com a orquestra no Teatro Municipal de Prados”, conta. Raele também acrescenta que cada aluno pode fazer quantas oficinas desejar, e de quantos instrumentos desejar, desde que respeite os limites por turma. “No ato da inscrição, o interessado deverá informar se possui ou não o instrumento, pois dependendo da oficina escolhida o festival poderá emprestar o instrumento para estud", conclui.
Informações: https://pradosmg.com.br/festivaldeprados