"Colonia" do desenhista e professor Clébio Maduro, reúne gravuras sobre o hospital psiquiátrico.
Os horrores, a angústia, o desrespeito pela vida humana e as violações de direitos humanos ocorridas no Hospital Colônia de Barbacena, hospital psiquiátrico fundado em 1903 e que estigmatizou o município mineiro como “cidade dos loucos”, inspiraram o desenhista, gravador e professor Clébio Maduro, que inaugura a exposição “Colônia” no Centro Cultural UFMG, nesta sexta-feira (3), às 18h. A mostra reúne gravuras sobre o hospital psiquiátrico e poderá ser visitada até o dia 26 de junho. A entrada é gratuita e não recomendada para menores de 14 anos.
Estima-se que 60 mil vidas tenham sido perdidas tantas por fome, frio, abandono e tortura no Hospital Colônia, um dia chamado de “trem de doido” por Guimarães Rosa, desde a fundação, em 1903, ando pelas primeiras denúncias, em 1961, até o fim dos anos 1980, quando as práticas precárias e criminosas foram interrompidas em virtude da luta do movimento antimanicomial. A partir de um documentário que assistiu sobre Barbacena e a colônia, Clébio Maduro se viu instigado a conhecer pessoalmente o primeiro manicômio de Minas Gerais e ficou sensibilizado com o que presenciou no local.
Para se libertar do que testemunhou, ele desenvolveu uma série impactante de gravuras que imprimem as dores vivenciadas nesse lugar, principalmente pelas mulheres, traduzidas em “Holocausto Feminino”, que lhe rendeu um poema de Amílcar de Castro, em 1989. As gravuras “Banho de sol”, “Centro S.P.” e “Jogo da velha” também renderam ao artista o primeiro prêmio na Bienal Internacional de Gravura de Santos, em 2011.
Médica psiquiatra, doutora em história da arte e curadora da mostra, Fernanda Medina diz que “Clébio Maduro se viu assombrado pelas imagens produzidas no Hospital Colônia de Barbacena e precisou, durante três décadas, lidar com esse assombro, utilizando os meios que possui: a arte”. “Clébio não poupa o espectador da angústia, da solidão, do desespero vivenciado naqueles pavilhões. Ele não usa eufemismos. Ao contrário, suas imagens são uma espécie de denúncia. Por trás da sutileza de suas linhas e do rigor da sua composição, marcas da sua obra, o que enxergamos são os olhos e a alma da loucura”, completa Fernanda.
O autor
Clébio Maduro é desenhista, gravador e ex-professor de gravura da Escola de Belas Artes da UFMG (1978-2014). De 1972 a 2020, participou de 120 exposições coletivas e 16 individuais, incluindo 59 participações em vários salões nacionais, alcançando 12 premiações. Tem ministrado vários cursos de gravura e desenho nas principais cidades históricas de Minas Gerais, tendo como destaque em sua trajetória o primeiro prêmio na Bienal de Gravura da cidade de Santos (SP) e uma individual de 106 trabalhos intitulados Obra gráfica, na Reitoria da UFMG.