Em tempos de Expô, o cronista Sérgio Cardoso Ayres comenta a euforia que uma exposição agropecuária pode causar 332h1x
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Por Sérgio Cardoso Ayres
Membro da Academia Barbacenense de Letras
Muita gente prefere os animais aos seres humanos. Também, pudera, tem cada ser humano por aí de assustar criancinha! Outros favorecem os humanos em detrimento dos animais. Têm e não têm razão. Afinal, todos somos seres vivos. Entenda quem puder! E poucos assumem que os animais podem ser muito mais humanos do que nós, autodenominados de os mais evoluídos, e os humanos verdadeiros animais - na expressão de animal como algo selvagem e feroz, ou seja, seres involuídos. Serão mesmo? Afirmar que descendemos do macaco, então, mesmo parentes do inteligente e surpreendente chimpanzé, pode causar até tumulto em determinados animais, desculpem, em seres considerados humanos, embora bem mais toscos do que o normal. Estes preferem a linhagem pura de Adão e Eva – mas esquecem que a serpente é a grande protagonista nessa história da evolução – a maçã não a de protagonista e o casal, bem, fraquinhos, tanto que foram expulsos do paraíso, né? Em Barbacena, por exemplo, temos dezenas de cachorros soltos pela rua, principalmente no centro da cidade. Querendo ou não, essa matilha coloca nossa integridade em risco. Eu mesmo já ei por alguns apertos. Por outro lado, temos até vereadora eleita tendo como plataforma os cães – com votos dos humanos, claro!
Em uma época em que gosto se discute, principalmente na selva em que se transformaram as redes sociais, é preciso muita cautela. Entre os que criam cães e gatos como se fossem humanos e os que criam humanos como se fossem animais, existe um universo psicológico que precisa ser diagnosticado. Como, querendo ou não, somos a Cidade das Rosas sem rosas, precisamos ter cuidado em achar que determinados comportamentos se aproximam muito de transtornos psicológicos. Temos cães desfilando em carrinhos de bebê, gatos que dormem na cama junto com o casal e até pessoas esquecidas da família que vivem trancadas em quartos. Só que ninguém pode negar a euforia que a Exposição Agropecuária sempre provoca em Barbacena – cidade que vira uma verdadeira Arca de Noé neste período, com o parque de exposições se transformando em um verdadeiro petshop em que pululam, na mesma sintonia, cavalos, vacas, touros, porcos e .... seres humanos. A confusão é tão grande que ainda temos aqueles que acham que alfaces e tomates também possuem sentimentos. Antes que digam que sofro de preconceito estrutural contra bichos e verduras, sempre achei muito curioso o comportamento dos humanos nesta época em que a Exposição, pela 56ª vez, vira o marco zero de nossa região das Vertentes.
O principal sintoma de alteração pode ser observado na indumentária, ou seja, na moda, como também na decoração das lojas. Para as mulheres, as botas tornam-se o grande e sensual destaque junto com o jeans bem apertado. E aperte mesmo! Já o couro, em saias curtas, está em alta. Mas cuidado com o frio – uma gripe vai estragar todo o planejamento de arranjar companhia. Já os homens desfilam em cinturões com enormes fivelas prateadas e camisa xadrez. Os chapéus, claro, servem aos dois. Para os não-binários, um mix é a melhor solução, com um exagero aqui e ali. Um conselho: não tentem rivalizar com equinos e nem bovinos – podem até fazer sucesso, mas cuidado com as redes sociais. Detalhe: a moda é diferente para os camarotes (não confundam couro com imitação barata - é vexame na certa); para os shows (não tentem chamar mais atenção do que o Luan Santana ou da dupla Maiara e Maraísa); e para o povão (aqui vale tudo, mas pouco também é sucesso). Nas vitrines, o preto assume a condição de cor básica, que combina com tudo, até com mau-gosto, já que decoram com selas, apetrechos de montaria e cordas. Vale tudo. Mas, a tal da serragem, é de gosto duvidoso. Já vi até cuia de chimarrão e cabeça de bode empalhada. Gente! Destacamos também os barbacenenses ausentes, aqueles que falam isso e aquilo de nossa cidade na capital, mas que não perdem uma Expô ou Festa das Rosas. Merecem o apelido de arroz de festa.
Entre cervejas, tira-gostos, paqueras, separações, ressacas, brigas, congestionamento e muito mais, confesso: entre esses outros e aqueles uns, prefiro os animais.