Lido Loschi nos brinda com mais um conto. Hoje falando de saudade, de morte, de vida. Confira!
por Lido Loschi
O que eu diria no dia dos mortos? Que a saudade é grande e ainda não me acostumei com a falta? Que tenho vontade de ligar, conversar, dizer que sonho todas as noites e acordo assustado com sede de abraço?
A morte, como dor, inexiste para o outro.
Ainda choramos nossos mortos, mas assistimos também o crescimento do ódio nas pessoas. Isso sim, faz doer, até neles. Como somos contraditórios. Deixamos os cemitérios cobertos de lágrimas e flores. Mas há no ar uma apologia à tortura, às armas, à morte. Pregamos o aniquilamento. Nos iludimos acreditando ser assim a única forma possível de sobreviver. Amamos tanto nossos mortos, porque dormem profundamente e só nos causam saudade. Os que se foram, deixaram seus exemplos de vida.
Amizade, afeto, solidariedade. Por isso são lembrados. Nesses tempos, pelo visto, não teremos muito o que deixar.
Nosso abraço anda frouxo para os vivos. Vivemos na demência de amar, de chorar somente o que não mais existe.
Imagem Pixabay.