'Soltando o verbo Descender, com a escritora Lucimar Zanzoni 384zd

Contemporânea, artista sem pretensão, moderna, desafiadora, criativa, meiga e genial. Lucimar Zanzoni é convidada do BarbacenaMais e está publicando suas séries de crônicas aos domingos aqui. Um pouco de leveza e literatura para dias pesados e instigantes. Hoje é dia de falar sobre descender  ;-) 3ti28

SOLTANDO O VERBO descender

Por Lucimar Zanzoni*

Descender
Já há muito tempo tenho vontade de fazer minha árvore genealógica, conhecer minhas origens, meus ancestrais, meus ascendentes. Este desejo ficou guardado numa gaveta cheia de retratos cinza amarelados com bordas brancas sujas pelo tempo. Neles há bigodes virados para cima; óculos sem armações, os chamados pincenês; mulheres de coques no alto de suas cabeças, usando meias brancas por debaixo de saias fartas de babados; ternos risca de giz da mais autêntica casimira inglesa; bebês de toucas e camisolas de renda; meninos de calça curta e meias três quartos; relógios de bolso guardados em bolsos de colete com correntes pendentes; camafeus nos colos das senhorinhas e muito mais.
De uma maneira simples, sei que sou neta de portugueses do lado de minha mãe e sou bisneta de italianos do lado paterno, imigrantes que vieram para o Brasil no fim dos anos 1800, início dos anos 1900.
E foi assim que resolvi preencher as lacunas do meu DNA pesquisando as datas da vinda ao Brasil, suas datas de nascimento, o que eles faziam para sobreviver, como conheceram seus parceiros de vida, quem veio junto e o porquê.
Tem sido uma jornada muito interessante ver os registros de batismo em Portugal dos meus avós, bisavós e outros para trás. E tenho descoberto vários caminhos que facilitam esta investigação. No Facebook há vários grupos de genealogia que auxiliam pessoas interessadas a darem os primeiros os nesta odisséia, bem como há vários sites com dados dos imigrantes italianos que vieram trabalhar no Brasil e aqui ficaram, criaram famílias, laços e nos deixaram sua cultura e tradições.
Sei que para conseguir êxito tenho incomodado bem meus parentes, especialmente os mais velhos, com perguntas sobre meus tios avós, suas lembranças, seus registros. Mas a cada semana tenho encontrado mais um parente e tenho comemorado intimamente cada conquista. Tenho um ramo de ascendentes que já está lá no início do século 17. Nunca imaginaria que chegaria tão longe!
Vez por outra penso em quanta gente foi preciso nascer para eu estar aqui, quantos encontros e desencontros aconteceram, quantas vidas atravessaram oceanos para que eu esteja escrevendo agora.. Ser é bem mais do que se pensa, ser é descender, é herdar, é puxar, é parecer, é ter trejeitos, é ter sinais, é trazer em si toda uma legião de pessoas, de culturas, de línguas. Não sei aonde vou chegar, mas certamente vou transcender.. Isso.. Ser é transcender.

Minhas dicas hoje começam com a coleção de sete livros de Érico Veríssimo chamada “O tempo e o Vento” que conta mais de 150 anos de história do Brasil e de uma família no Rio Grande do Sul. Para quem quiser encurtar o caminho a série televisiva de mesmo nome pode ser assistida na íntegra no Youtube, mas reporta apenas o primeiro volume da saga.
Para quem for descendente de italianos o site barbacenamais-br.diariomineiro.net dá pistas e informações importante sobre os navios que vieram trazendo os primeiros imigrantes e muito mais.
Já sobre a vinda da família real portuguesa para cá, o livro “1808”de Laurentino Gomes traz detalhes curiosos sobre a importância dos portugueses na formação do Brasil de hoje.

Arte por @ashleygilreathjewelry

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*Lucimar Zanzoni

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