'Soltando o verbo (des)INVENTAR', com a escritora Lucimar Zanzoni 2n6j11

Contemporânea, artista sem pretensão, moderna, desafiadora, criativa, meiga e genial. Lucimar Zanzoni é convidada do BarbacenaMais e está publicando suas séries de crônicas aos domingos aqui. Um pouco de leveza e literatura para dias pesados e instigantes. Hoje é dia de falar sobre (des)inventar  ;-) n5n2n

SOLTANDO O VERBO (des)INVENTAR

Por Lucimar Zanzoni*

(des)Inventar
“Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar”.. Ah, Chico Buarque.. Impossível não se inspirar ouvindo “Apesar de você”.. Dá até uma vontade súbita de inventar moda com esta palavra inventada para esta música. É só imaginar um mundo diferente, pelo menos sem pandemia. Num universo paralelo a primeira coisa que iria fazer seria ir prá praia, uma praia grande, com areia bem branca, céu azul e gente, muita gente. O sol de verão me faria esquecer estes dias frios de inverno, entocada em casa, onde parece que o tempos não anda. As pessoas e suas famílias ou amigos estariam felizes com música ao fundo, chupando picolé, tomando uma cervejinha, conversando alto. Nesta hora eu ia desinventar o isolamento e as preocupações com o contágio de qualquer tipo de vírus. Ia esquecer que o bolso está vazio e não dá prá fazer loucuras de verão, do tipo comer camarão, estrear biquíni ou chinelos ou cangas novas. Como seria bom!
Na esteira do calorzinho inventado juntaria um barco com umas vinte pessoas, no mínimo, e planejaria um eio no mar com direito a mesa de frutas, sucos e drinques tropicais. Tomaria sol de costas e de frente, igual churrasquinho girando. E ficaria vermelha e quente de alegria e satisfação.
Numa terceira etapa desinventaria algumas coisinhas. Máscara seria só para mergulhar. Distância seria só de animais perigosos, tais como tubarões, peixes espada ou águas marinhas. Medo seria só de ser deixada prá trás. Ansiedade seria só de aproveitar cada minuto do sol escaldante. Álcool gel seria só para acender a churrasqueira sem correr nenhum risco. Respirador seria só para mergulhar nas águas mais profundas. E oxímetro seria só para regular o teor de oxigênio nas imersões no azul dos oceanos. UTI seria ultra trampolim inventado, aquele que nos leva às alturas e depois à mesma ou maior profundidade possível.
E sairia também inventando soluções para os imes que estamos atravessando, desinventaria boletos e contas de água, luz, celular; desinventaria hospitais lotados, crise na saúde e falta de medicamentos; inventaria pílulas do conhecimento com o conteúdo de um ano letivo de escola, para que nenhuma criança ficasse atrasada por um ano nos estudos; desinventaria o Corona vírus em todas as suas versões e inventaria uma super vitamina que todo mundo tomasse e ficasse imune a qualquer doença física, mental ou ética por um bom tempo.
E, por fim, desinventaria o relógio como ele é e criaria um novo que retrocedesse no tempo e faria que chegássemos ao dia trinta de novembro de dois mil e dezenove, quando ainda não se tinha notícia de nenhum caso de COVID 19 no mundo e aí então, todo mundo ficasse com aquela idade e em plenas férias de verão pelo ano todo.
Será que enlouqueci?

Dicas: Todos os programas relacionados ao mar que são transmitidos pelo Canal Off, tais quais My surf, Mundo Medina, Diário das Ilhas e Mulheres do Mar têm o poder de nos colocar de férias vendo TV.
Os filmes “As aventuras de Pi” (Telecine) e “Invencível”(NetflixBrasil) nos fazem viver aventuras maravilhosas no mar.
E para quem gosta de ler os livros “O velho e O mar” de Ernest Hemingway, “Moby Dick” de Herman Melville e “Mar Morto” de Jorge Amado.

Foto artística de Lucas Moraes (@lucasmoraes)

O texto acima faz parte da série Soltando o Verbo, onde reflito, neste período de pandemia, sobre um verbo relacionado com o assunto e com o momento.

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*Lucimar Zanzoni

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