Comoção e multidão no sepultamento de Wanderson Valeriano, vítima da tragédia de Brumadinho 23245z

Obituário

🔔Receba no seu whatsapp todas as notícias em tempo real - Entre agora!



Na noite desta quarta-feira (3), por volta das 23 horas, o corpo do funcionário da Vale Wanderson Valeriano foi sepultado no Cemitério da Boa Morte, em Barbacena. Wanderson deixa esposa e três filhos.  6m5y55

Já ava das 22h00 quando a multidão que se encontrava no cemitério da Boa Morte, em Barbacena, abriu caminho para a agem de duas viaturas do Corpo de Bombeiros, que chegou com suas luzes acesas, em silêncio. Nos veículos, as fisionomias tristes dos militares dos Corpo de Bombeiro. Olhares de tristeza, desconsolo, nossos heróis diários já não pareciam tão fortes. Olhares perdidos, avermelhados, rostos tristes e meio inchados. É tristeza. Um bombeiro está pronto para trabalhar nestes momentos mais agudos, mas está sendo muito pesado. Muito além do que a gente pode ar, balbuciava um.

A multidão se entreolhava, não avistamos o carro fúnebre. De repente alguém nos avisa, o corpo já está perto da Roselanche. Desfaz-se o silêncio, e aquelas mais de 200 pessoas retomam suas conversas, comentando a tristeza, a dor, falando sobre o luto da família de Wanderson Valeriano, sua esposa, seus três filhos, a dor do pai, que nos parecia inconsolável. Mas eram aquelas conversas em tom melancólico, triste, quase sussurradas. Um tom de respeito.

De repente, minutos depois, mais e mais pessoas presentes no largo da Boa Morte. E eis que chega o momento mais duro. A chegada do carro fúnebre com o corpo do barbacenense Wanderson. Aos poucos as pessoas se aproximam da viatura, e num como lento o motorista abre a porta traseira do carro. Familiares, amigos e tantas outras pessoas se deparam com a realidade que até então se tentava negar. A tragédia de Brumadinho tem rosto, tem família, tem historia, tem memórias, e tem um nome que é tão nosso, tão barbacenense. Nosso querido Wanderson, aquele rapaz que estava com toda uma vida pela frente, cheio de sonhos e de vontades para ver sua família crescer forte, com saúde, seus filhos virarem adultos e lhe encherem a casa de netos, a vida de orgulho, de razões para acreditar que todo o esforço havia valido a pena.

O choro contundente dos familiares dilacerava os corações de qualquer um que ali estivesse presente.Soluços descomados que se revezavam entre a família e os amigos. Em cima do caixão uma foto para lembrar daquele sorrisão maroto e enorme que Wanderson lançava sempre sobre a vida e sobre as dificuldades, sorriso que dava confiança e força em todos os que estavam à sua volta.

Não havia mais dúvida, ali eram os últimos momentos em que a família de Wanderson tinha contato com o que há de físico após a morte. Choro, muitas lágrimas, palavras carinhosas dos amigos, a paixão e o amor nos olhos dos pais, da esposa, a benção do pastor, e muitas, muitas palmas para homenagear a trajetória de um barbacenense de vida simples, que trabalhava e vivia para sua família, seu emprego e seu Deus. Morreu numa tragédia que sensibilizou o mundo inteiro e nos arrancou e ainda arranca lágrimas a cada dia em que acompanhamos estupefatos as buscas.

A Boa Morte, que em raros momentos recebeu um sepultamento noturno, viveu nesta noite de quarta-feira mais um momento de dor, de tristeza, de despedida. Não fosse a tecnologia dos celulares e as luzes improvisadas pelos bombeiros, e muitos não teriam acompanhado o descer do corpo à sepultura. Noite triste, tempos tristes, a gente saiu dali arrasado. Completamente aniquilado pelo que estamos acompanhando de longe, mas que através de Wanderson se tornou concreto para nós barbacenenses.

A irresponsabilidade, a falta de humanidade, os lucros, o dinheiro acima de tudo. Eles levaram a vida de Wanderson e de outras dezenas. A tragédia de Brumadinho, tal como a lama que escorre irresponsável por terras e rios de Minas, também chegou lentamente a Barbacena, e trouxe consigo a dor da família de Wanderson. 

E agora? E esses olhares perdidos sem saber como a vida poderá acontecer sem a presença do filho, sem a fortaleza do marido, sem o exemplo do pai. Para onde e como ficarão esses olhares tristes? Como seguir em frente? Ou, é preciso seguir em frente.

O retorno de cada um que esteve no sepultamento de Wanderson foi repleto de indagações, reflexões, ponderações. Ninguém voltou o mesmo para casa. A hora é de refletir, e repensar nossos posicionamentos e nossas cobranças por mais respeito à vida.

De onde estiver, tenho pra mim, Wanderson clama por humanidade. Nada vale mais a pena que a nossa humanidade.

A noite se encerra, e a certeza que fica é que para sempre lembraremos da tragédia de Brumadinho com a imagem deste caixão com a foto iluminada de Wanderson, com um sorriso gigante, a nos lembrar que a vida é só um fio. 

Vida que segue. Pena que ele não seguirá com a gente.


Por Kátia Cilene

 

 

 

Siga o BarbacenaMais no Instagram X Facebook

Imprimir




Nos siga noGoogle News