Em Barbacena o dia 18 de maio assune novas nuances quando a loucura a a ser estampada em locais diferentes. Veja na vitrine, embaçada vitrine, imagem distorcida, realidade... 3m4i2q
E a luta continua...
Mais uma vez Barbacena mostra a loucura. Desta vez, a loucura será estampada em lugares diferentes. Lugares onde, normalmente, as pessoas gostam de parar para olhar. Contemplar. No entanto, desta vez, o que é apresentado à contemplação oferece uma revolta no pensamento. Como imaginar-se refletido na vitrine? Em que medida aqueles elementos nos são favoráveis?...
Neste sentido, Barbacena desta vez ousou um pouco mais, pois coloca a loucura, tão rejeitada e para a qual, comumente, se prefere desviar o olhar, na vitrine aos olhos dos antes.
As vitrines nos mostram uma visão embaraçada ou nos lembram algumas cenas embaraçadoras? De que modo olhá- las e não se sentir provocado? De que modo não pensar que se conviveu com tal realidade e nada se atreveu a fazer? Como olhar para essas vitrines e não se ver justificando de que nada fizera por não saber?
Ao encarar o que está exposto desvela-se a visão de que se permitiu que a loucura fosse aprisionada. Permitiu-se, então, por acreditar que era o melhor a se fazer, pois aquele era o melhor tratamento? Permitiu-se por apenas repetir os métodos sem conhecê-los? Como não tentar se proteger dos incômodos causados ao encarar o que está exposto?
Olhar para essas vitrines é enxergar os limites imprecisos do objeto exposto – loucura - e as projeções capturadas pelo reflexo especular de quem olha.
Quantas vitrines! Quanta coragem! Quantas questões!
A loucura que compôs a história barbacenense não nos deixa esquecer quantas vidas foram esfaceladas, quantas vozes silenciadas, quanto sofrimento foi provocado. Não há como esquecer que pessoas se amontoavam nos pavilhões dos muitos hospitais psiquiátricos, dormindo em camada de feno, obrigadas a comer com as mãos em cochos de alvenaria como animais. Sem direito à fala, esperando silenciosamente a morte em pátios imundos afastados dos espaços da cidade e de todo tipo de olhar.
Então, com a loucura escancarada ao olhar de quem a, relembra-se a história, volta-se para o presente e pergunta-se: como se vê a loucura hoje? Sabe-se que aprisioná-la não é opção. O ado mostrou isso. Contudo, mesmo fora dos muros, a loucura ainda é trancafiada nos manicômios construídos na mente de cada um. São movimentos sutis, pensamentos “inocentes”, mas que continuam a excluir e calar sujeitos. Diante de uma pátria distraída, é preciso expor a loucura de modo que as pessoas que a vivenciam sejam vistas. Suas histórias, seus sonhos, suas dores, seus amores, suas cores.
O colorido dessa gente não pode mais se apagar. Devem as cores e a liberdade ser aprisionadas? Ou devem circular pelas ruas, trazendo alegria e novidade ao cotidiano? Se as cores podem advertir, que caminho elas orientam a seguir? As cores vistas fora dos muros dizem para continuar. O movimento da Luta promove essa evolução. O 18 de maio chama à reflexão. Não é só um dia, não pode ser um dia só.
Loucura, agora com a força de sua luta e a transparência de sua garra, colorindo as ruas no embalo do samba - Atentos e fortes: Tam, tantãs sem temer os golpes, na expectativa renovada de um "até depois do 18 de maio"..
Regina Célia Rodrigues Monteiro
Vanessa Aparecida da Silva
Psicólogas e Servidoras da Saúde Mental